NADA COMBINA COM DROGA - NEM A VIDA

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quarta-feira, 3 de outubro de 2012

SONETOS DE FLORBELA ESPANCA - POETISA PORTUGUESA

SONETOS DE FLORBELA ESPANCA - POETISA ESPANCA

PIOR VELHICE

Sou velha e triste. Nunca o alvorecer 
Dum riso são andou na minha boca! 
Gritando que me acudam, em voz rouca, 
Eu, náufraga da Vida, ando a morrer! 

A Vida, que ao nascer, enfeita e touca 
De alvas rosas a fronte da mulher, 
Na minha fronte mística de louca 
Martírios só poisou a emurchecer! 

E dizem que sou nova... A mocidade 
Estará só, então, na nossa idade, 
Ou está em nós e em nosso peito mora?! 

Tenho a pior velhice, a que é mais triste, 
Aquela onde nem sequer existe 
Lembrança de ter sido nova... outrora... 

Florbela Espanca


NEURASTENIA 

Sinto hoje a alma cheia de tristeza!
Um sino dobra em mim Ave-Marias!
Lá fora, a chuva, brancas mãos esguias,
Faz na vidraça rendas de Veneza...

O vento desgrenhado chora e reza
Por alma dos que estão nas agonias!
E flocos de neve, aves brancas, frias,
Batem as asas pela Natureza...

Chuva...tenho tristeza! Mas porquê?!
Vento...tenho saudades! Mas de quê?!
Ó neve que destino triste o nosso!

Ó chuva! Ó vento! Ó neve! Que tortura!
Gritem ao mundo inteiro esta amargura,
Digam isto que sinto que eu não posso !!... 

Florbela Espanca


ANGÚSTIA 

Tortura do pensar!Triste lamento! 
Quem nos dera calar a tua voz! 
Quem nos dera cá dentro, muito a sós, 
Estrangular a hidra num momento! 

E não se quer pensar!...e o pensamento 
Sempre a morder-nos bem, dentro de nós... 
Querer apagar no céu -- ó sonho atroz! -- 
O brilho duma estrela, com o vento!... 

E não se apaga, não...nada se apaga! 
Vem sempre rastejando como a vaga... 
Vem sempre perguntando: "O que te resta?..." 

Ah! não ser mais que o vago, o infinito! 
Ser pedaço de gelo, ser granito, 
Ser rugido de tigre na floresta! 

Florbela Espanca

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