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terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

MEU PAI TINHA OLHOS CASTANHOS


MEU PAI TEM OLHOS CASTANHOS

Naquele dia, num olhar desamparado, percebi que tudo seria diferente… Você deixaria de apoiar a voz da razão, deixaria de ser a referência e agora seria eu a ajudá-lo a caminhar.

Seu aspecto físico tinha mudado, perda de peso, a lentidão para realizar tudo, a sua expressividade de criança. Por ainda ser meu pai e, às vezes, se comportar como tal, em situações de decisão para dizer “sim” ou “não”, eu te respeitava. Quando voltava para mim este olhar confuso, eu sabia, no meu coração, que a realidade agora era outra.

Às vezes, eu vejo você vagando ao redor da casa, de um lado para o outro, parar e voltar seus passos, reiniciando a marcha, em busca de algo… que novamente desaparece de sua mente e que não importava mais.

Depois de algum tempo, não conseguimos mais conversar normalmente , como se o papo ficasse para terminar depois. Você sempre comentava sobre sobre política, sobre as manchetes do jornal. Hoje, eu sinto falta da sua capacidade de articulação, de sua sabedoria e de sua ironia.

Aproveito seus momentos de lucidez e lembramos momentos felizes que passamos juntos. Tentando manter seus amigos, você vai para as reuniões com a sua turma, mas eles percebem seu vazio e te tratam de forma diferente.

O dia parecia pequeno para tantas e importantes atividades, distribuindo ordens e orientando nossa família nos mínimos detalhes. Hoje você, gentil, obedece minhas solicitações e sempre me mostra esse olhar vazio para receber uma nova ordem.

No momento, eu sei que você está penando para resolver a confusão que ficou sua cabeça. Os objetos em torno de você têm um nome, embora às vezes não se lembre o nome deles. Sabia mexer no barbeador elétrico que eu comprei, mas agora se barbear se tornou uma tarefa impossível.

A cor dos olhos de meu pai é castanho.











FOTOS GARIMPADAS DA NET.

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