“Trabalhar é fácil, mas ser feliz dá um trabalho...”
“Quem não vive para servir não serve para viver”.
Esse é o dito popular preferido de minha família e o outro é:
“Trabalhar demais não mata ninguém”.
Diante desses ditos, muitos valores me foram sendo registrados desde cedo; trabalhar, servir, tornou-se a grande missão e, como agradar à mamãe e ao papai era a premissa. Todos os 12 irmãos desde cedo arranjaram algo para fazer e o fazíamos com maestria e digo mais, não nos permitíamos nem adoecer, pois trabalhar demais não mata ninguém... Os anos foram passando e nos destacamos no mundo do trabalho. Para nós, os irmãos, nosso Deus era o trabalho. E como adorávamos trabalhar e trabalhar demais, nenhum da família tinha histórico de férias maravilhosas. Uma vez ou outra um se aventura a cinco dias de folga, mas vai arrastando uma tonelada de culpa e a própria família faz alguns comentários do tipo: “...como é que ela (ele) tem coragem de deixar o negócio na mão de fulano?...” ou ...”tá entregando ouro ao bandido!...”, e por aí vai.
De tanto que se trabalha, mais se trabalha. E como o treino faz o mestre, fomos nos tornando “mestres em trabalhar”...e achamos bom... e está certo assim... Lembra-se da cigarra e da formiga?... e os três porquinhos? Essas fábulas são quase uma prece nas nossas vidas...
E viva a mamãe que é a mais trabalhadora de todos; e é mesmo... sempre trabalhando até hoje quando poderia se ocupar de não trabalhar.
Ô mãe! ...
Quando puxo o assunto com os meus irmãos, cuja condição já é mais que confortável, eles dizem:
- Você sabe que o melhor lugar do mundo para mim é no meu trabalho? - Viajar pra quê? Não sinto a mínima vontade. Outro fala:
- Se eu deixar meu negócio quem cuidará? Tá doida?
Fico observando a correria de cada um e a minha também ... Há uma urgência e uma pressa de fazer mais, de ser rápido de fazer melhor... São muitas coisas para um só dia. O presente vai ficando pequeno, curto, quase suspenso. O futuro é grande, tudo em nome dele. Precisamos garantir o futuro. É quase como se estivéssemos presos, pois pensamos que ser feliz é para depois, descansar é para depois, gozar a vida... é para depois.
E assim a vida vai acontecendo, se você dá conta de fazer três coisas, pode dar conta de fazer dez, vai encaixando, vai dando um jeito... e “as melancias se ajeitam no balanço da carroça...” outro ditado bom para quando as coisas estão complicadas.
Depois de uma conversa com um dos meus irmãos, que sofreu um assalto, com risco de perder a vida, mas de quem, felizmente, só levaram dinheiro... as perguntas começaram a vir:
- Pra que tanta luta?
- Pra quê tanto esforço?
- Quase a vida foi embora...
- Será que é sempre necessário um acontecimento violento para repensar a vida? A morte de uma pessoa querida, aposentadoria, doença, perdas de um modo geral?
- Será que dá para viver de um jeito diferente, sem esperar, necessariamente, os limites?
- Como fazer isso? Alguém aí tem idéia?
- Será que é viajar?
- Será que é dançar?
- Será que é cantar, conversar, rezar, relaxar, ficar na rede... ai! meu Deus, isso é impossível... só aprendi a correr e a me movimentar... se parar, eu morro.
Fiquei pensando na frase: ”- se eu parar, eu morro...”
Parar significa se rever... Olhar para nossa vida dói e dói muito... é melhor correr e trabalhar para não sentir dor. Ai! meu Deus, como é fácil produzir... Corre e arruma alguma coisa para eu fazer... Socorro!!! Ai que delícia é trabalhar! É preciso aprender, além disso, a ser gratuitamente feliz, talvez da mesma forma como aprendemos a só trabalhar. Para quem só vive para trabalhar, fazer algo por puro prazer e felicidade, dá uma culpa danada.
Ser apenas feliz, por mais incrível que pareça, nos força a ousar, a sair da zona de conforto, nos desafia a buscar uma conexão com a alegria, a leveza, o bem estar... Já ser infeliz, no entanto, parece atrair a simpatia das pessoas para nos ajudar, nos tornamos vítimas, não precisamos agir porque a responsabilidade passa a ser do Outro, não minha. Trabalhar demais é fácil, eu já comprovei isso.
Agora quero me dar ao trabalho de buscar um equilíbrio entre trabalhar, ser mestre no que faço, e me aprofundar na maestria da alegria, da felicidade e do não fazer nada. Sei, entretanto, que atualmente ser feliz, para muita gente, seria apenas ter um trabalho. Por hora, chega de conversa... E vamos ao trabalho de buscar essa tal felicidade.
FOTOS GARIMPADAS NA NET.
TEXTO EXCELENTE QUE RECEBI DE MINHA AMIGA IRES ALICE LUNKES.
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