NADA COMBINA COM DROGA - NEM A VIDA

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quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

AS BARBÁRIES NA HUMANIDADE





Na Guerra do Paraguai os chamados "crimes contra a humanidade" repetiram-se
 com freqüência. E não foram poucos.O primeiro, não em ordem
 de gravidade, mas de cronologia, foi o de tratamento desumano 
aos prisioneiros, registrado em ambos os lados.
Outra prática, esta exclusiva dos aliados, era a 
incorporação forçada de prisioneiros paraguaios em suas tropas, 
obrigando-os a lutar contra sua própria pátria. 
Os que se recusavam eram, freqüentemente, vendidos como escravos.
O general Bartolomé Mitre, primeiro comandante das forças aliadas, 
queïxou-se de que, em setembro de 1865 - 
após a rendição das tropas paraguaias do general Estigarribia, 
que ocupavam Uruguaiana - a cavalaria brasileira havia arrebatado 
aos argentinos cerca de mil prisioneiros para vendê-los, 
posteriormente, como escravos para os estancieiros gaúchos. 
No decorrer do conflito a venda de prisioneiros para serem 
escravizados tornou-se um próspero comércio, 
incluindo eventualmente também civis de ambos os sexos.
O suíço Ulrich Lopacher - 
ele próprio forçado a lutar no exército argentino - 
testemunhou, no final do prolongado cerco aliado à fortaleza
 de Humaitá, o encontro dramático entre compatriotas
 que combatiam em lados apostos. Uma mulher, 
em uniforme de sargento da artilharia, 
destacou-se do grupo de paraguaios rendidos, 
precipitando-se entre os inimigos para abraçar,
 chorando, um deles. Era o seu marido, também paraguaio, 
que tornara-se "prisioneiro-soldado" das tropas da Tríplice Aliança.
A incorporação forçada não se limitava aos prisioneiros, 
atingindo também cidadãos dos próprios países. 
No Brasil a prática era adotada para a formação
 de batalhões militares quando o recrutamento dos
 "Voluntários da Pátria" se revelava insuficiente. 
A caça de "voluntários" pelo exército foi inclusive satirizada
 por caricaturistas de revistas da época.
Na Argentina, onde a guerra era inteiramente impopular,
 o recrutamento forçado de jovens chegava ao ponto de mantê-los
 acorrentados uns aos outros para conduzi-los
 aos acampamentos militares. No Uruguai, a arregimentação
 de novos contingentes chegava a despovoar vilas inteiras.
 Segundo diplomatas estrangeiros, a população masculina
 fugia para o interior, refugiando-se nas matas e montanhas,
 para não ser incorporada ao exército.
Em conseqüência, as deserções e os motins
 entre as tropas da Tríplice Aliança eram freqüentes.
 Só na Argentina ocorreram cerca de uma centena
 de rebeliões internas durante o período da Guerra do Paraguai,
 não só em virtude de rivalidades entre as Províncias
 mas também pela resistência à convocação obrigatória.
O governo argentino também patrocinava
 a formação de uma "Legião Paraguaia", constituída por exilados
 inimigos de López e da "Legião Militar", formada por
 mercenários estrangeiros, contratados na Europa.
 Também imigrantes, como Lopacher,
 que viajavam para Buenos Aires com a promessa
 de que receberiam terras como colonos, ainda a bordo
 descobriam que seriam obrigados a ir para a guerra.
A utilização de estrangeiros no exército paraguaio
 também ocorria, embora com menor freqüência. 
Em geral eram militares profissionais em seus países
 de origem que haviam sido contratados por
 Solano López para atuarem como conselheiros e
 instrutores das forças paraguaias antes do conflito.
 Alguns, como o coronel britânico George Thompson,
 tornaram-se importantes chefes militares durante a guerra,
 participando diretamente nos combates.
 Outros foram repatriados, juntamente com dezenas
 de técnicos civis europeus, quando a luta entre
 a Tríplice Aliança e o Paraguai chegou ao território guarani. 
Por três vezes os navios da Marinha Real tiveram permissão
 de ultrapassar ao bloqueio da esquadra brasileira para
 retirar mais de duas centenas de cidadãos britânicos e
 outros europeus e suas famílias.
Muitos crimes de guerra permaneceram ignorados, 
até pela falta de sobreviventes para denunciá-los. 
Outros foram denunciados mas permaneceram impunes
 e voltaram a ser repetidos. O jornal londrino "The Evening Star"
 publicou denúncia de seu correspondente em Montevidéu
 relatando que as tropas uruguaias do general Venâncio Flores
 haviam degolado, no início da guerra, 1.400 prisioneiros 
paraguaios, abandonando os corpos insepultos no campo 
onde travara antes a batalha. Detalhe hediondo: todas as 
vítimas tinham as mãos atadas às costas.
Idêntica atrocidade seria cometida depois pelos brasileiros, 
em agosto de 1869, na fase final da guerra. 
Na luta pela posse de Peribebuy 
- que fora transformada em quartel general de Solano López
 após a queda de Assunção - todos os paraguaios 
capturados foram igualmente degolados, 
inclusive seu comandante, o general Pedro Pablo Caballero.
O massacre foi ordenado pelo conde d’Eu, Gaston d’Orleans, 
em represália à resistência dos paraguaios
 que resultara na morte de elevado número de brasileiros,
 entre ele o general Mena Barreto. 
Não satisfeito, o genro de Dom Pedro II mandou incendiar,
 em seguida, o hospital da localidade, 
cujas janelas e saídas haviam sido previamente bloqueadas,
 mantendo em seu interior os feridos e enfermos, 
entre eles muitos idosos e crianças.
Para não deixar sobreviventes, o conde d’Eu ordenou
 aos soldados que cercavam o prédio incendiado 
para que empurrassem de volta às chamas, 
a golpes de lanças e baionetas, os que tentavam escapar.
Novo e brutal extermínio ocorreu apenas quatro dias
 depois do massacre de Peribebuy, na batalha de Acosta Ñu,
 em que 20 mil soldados aliados lutaram contra apenas
 500 veteranos paraguaios, comandados pelo 
general Bernardino Caballero, e 3.500 crianças, cujas idades
 eram inferiores a dez anos.
Sem distinguir adultos ou crianças, a matança incluiu também,
 mulheres que lutavam ao lado de seus filhos e companheiros,
 não poupando nem mesmo aquelas que, desarmadas,
 tentavam socorrer os feridos ou resgatar corpos. 
Estas últimas tinham presenciado a luta desigual 
ocultas no matagal que cercava o campo 
onde se travava a batalha. Quando, após muitas horas, 
os combates cessaram, Gaston d’Orleans mandou 
que o matagal fosse incendiado, matando as mulheres e os feridos.
Episódio semelhante em crueldade já ocorrera, 
em dezembro de 1868, no término da batalha de Avaí, 
em que perderam a vida 3 mil brasileiros 
e o general Osório teve o maxilar destroçado por um tiro. 
Como vingança, lanceiros da cavalaria brasileira atacaram
 mulheres indefesas que socorriam os feridos paraguaios.
Chamadas de residentas, porque acompanhavam, 
na retaguarda, os deslocamentos das tropas em
 que serviam os seus maridos, companheiros ou parentes
 próximos, as mulheres foram mortas 
pelos lanceiros e pisoteadas pelos cavalos. 
Além dos crimes de guerra cometidos 
em decorrência de confrontos militares, 
há também registros de violências específicas 
contra populações civis: agressões físicas, torturas,
 abusos sexuais, saques de propriedades, confiscos
 e roubos de gado e, principalmente, prisões em massa.
Consta que os aliados teriam promovido a contaminação
 proposital de rios da região do conflito, jogando em suas
 águas, cadáveres de vítimas do cólera. Em despacho
 privado ao imperador Pedro II,
 datado de 18 de novembro de 1867, 
atribuído ao marechal Luiz Alves de Lima e Silva, 
na época ainda marquês de Caxias, 
a prática desta espécie de guerra bacteriológica primitiva
 teria sido admitida como uma estratégia
 "para levar contágio às populações ribeirinhas". 
O general Bartolomé Mitre teria não só aprovado a medida
 como o exército argentino, sob o seu comando, 
praticaria uma variação igualmente mórbida: 
a de enviar para as linhas de frente 
soldados portadores de varíola. Embora sem condições
 de combater, os militares doentes, ao serem capturados, 
disseminariam a moléstia entre os inimigos.
Dentre a verdadeira barbárie, constituída 
pelos inúmeros crimes de guerra, os mais graves
 e hediondos foram cometidos pela Tríplice Aliança. 
O Paraguai também merece ser condenado, 
principalmente pelo sacrifício inútil dos batalhões de 
"niños combatientes", formados por crianças ainda 
na infância ou, no máximo, na pré-adolescência.
Porém ninguém conseguiu exceder o sadismo 
com que o conde d’Eu conduziu as forças brasileiras, 
em substituição a Caxias, na fase final da guerra. 
Em menos de um ano de comando
 - de 15 de abril de 1869 até a morte de Solano López, 
em 1° de março de 1870 - o marido de Princesa Isabel 
colocou seu nome entre os maiores e mais impiedosos 
criminosos de guerra de todos os tempos.
Além das matanças que promoveu, 
o príncipe francês empenhou-se em arrasar materialmente 
o país vencido. Apenas dois meses depois de assumir 
o comando das tropas, mandou a artilharia bombardear 
a Fundição de Ibycui e fuzilou os paraguaios que haviam 
sobrevivido ao ataque, inclusive o seu comandante. 
As máquinas e equipamentos que ainda restavam, 
e poderiam ser recuperadas, foram destruídas 
meticulosamente pelos soldados brasileiros orientados 
por um oficial engenheiro. Para completar, foram 
dinamitadas as comportas da represa da usina 
que fornecia energia para a siderúrgica, 
causando a inundação do vale onde fora 
construída Ibycui e submergindo os seus destroços.
Para vencer o Paraguai não bastava o holocausto 
de sua população. Era preciso também 
destruí-lo materialmente. Tudo o que simbolizasse 
o seu progresso e independência 
teria de ser transformado em ruínas.
E assim foi feito.

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